Por Diogo Santos 25 de fevereiro 2022
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Agronegócio e câmbio podem ser valorizados, confira o que dizem os especialistas sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia

Na madrugada da última quinta-feira (24/02), a Rússia iniciou sua investida contra a Ucrânia, invadindo o país por céu, terra e mar. Os reais motivos são escusos, porém, pesa o fato da Ucrânia ser um país que pertencia à União Soviética, e estaria almejando ser membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Caso essa negociação se confirmasse, membros da Otan, como Estados Unidos, poderiam colocar tropas em terreno Ucraniano, o que deixaria a Rússia em desvantagem geográfica em futuros conflitos.

Embora esta tragédia tenha sido denunciada por lideranças como o presidente americano Joe Biden, ela ainda assim surpreende e exibe dúvidas sobre os rumos da economia após um evento de tal magnitude.

No primeiro momento, é preciso entender que Rússia e Ucrânia são grandes produtores de petróleo e gás do mundo, ficando atrás apenas dos países árabes e EUA. Da Rússia saem oleodutos e gasodutos, que passam pela Ucrânia e abastecem boa parte da Europa.

Os analistas preveem que deve ocorrer uma pressão inflacionária global, caso o preço do petróleo tenha uma alta muito superior ao valor que está sendo negociado atualmente. No momento em que esse texto é escrito, o barril do tipo Brent, referência para a Petrobras, está cotado à US$93,85/barril, mas chegou a ultrapassar os US$105/barril, horas após o início da invasão.

Além disso, Rússia e Ucrânia são responsáveis por cerca de 17% das exportações mundiais de milho, e 28% das exportações de trigo. Nessa questão, certamente o Brasil será afetado, de maneira negativa em alguns aspectos e positiva em outros.

O que é possível inferir com essas questões?

  • Petróleo

Os Estados Unidos e demais países da Europa não podem parar de comprar o óleo e o gás da Rússia. Analistas destacam que, por esse motivo, não consta nas sanções impostas pelos países contrários a guerra o cancelamento do código SWIFT da Rússia, que vetaria transferências bancárias internacionais por parte dos russos.

Paralelamente, os Estados Unidos estão negociando com o Irã, que atualmente sofre sanções por questões relacionadas ao enriquecimento de urânio, processo utilizado para fazer armas nucleares. Um eventual acordo pode adicionar cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia, o que corresponde a cerca de 1% do consumo do mundo.

Outro movimento é o uso das reservas estratégicas dos Estados Unidos, que já vem sendo utilizadas gradativamente. Essas medidas visam atenuar o rápido aumento do preço do petróleo, mas quem ditará de fato a dinâmica do preço é a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que vinha segurando a produção com o objetivo de fazer o preço da commodity subir.

Assim, na visão de especialistas do mercado, o preço do petróleo tipo Brent pode subir para além dos US$100/brarril.

Analistas da XP estimam que para a Petrobras, caso o preço médio do barril seja US$87, é projetado um Dividend Yield de 24%. Se o preço ultrapassar os US$100/barril, os dividendos serão de 27%.

Mas, se o preço do barril continuar subindo, e chegar à marca de US$150/barril, o DY iria para 41% – caso o câmbio não sofra grandes alterações nas próximas semanas.

Em cenários como este, não é esperado que o câmbio permaneça constante, mas a análise serve como referência para entender o impacto na receita da Petrobras.

  • Câmbio

Ao contrário de um movimento intuitivo, natural, que aponta para a valorização do dólar por ser um momento de crise, analistas apontam para a hipótese da moeda brasileira se valorizar devido à alta no preço das commodities no mundo inteiro.

O alto fluxo de dólares atraídos pelas commodities brasileiras, sobretudo as agrícolas, fariam o câmbio se valorizar. Mas, este é um movimento a ser observado e não é consenso entre os analistas.

  • Seguimento Agro

Segundo Pedro Fonseca, analista da XP, as commodities agrícolas já apresentavam preços em patamares recordes devido aos baixos níveis de estoque e perspectivas negativas para o clima adverso. Dependendo do desenrolar da guerra, os preços podem subir ainda mais.

Como já mencionamos, Rússia e Ucrânia possuem grande relevância nas exportações de milho e trigo. Somando-se a isso, a Rússia é um dos maiores produtores de fertilizantes, ocupando a segunda posição no ranking da produção de potássio e a maior fornecedora de fertilizantes para o Brasil. Por isso, já temos uma alta das commodities agrícolas no mercado futuro da B3.

A possível alta no preço do petróleo encarecerá o frete, aumentando o custo de produção das empresas agrícolas, e consequentemente, o preço dos produtos. Mas, Pedro acredita que países com um custo de produção inferior, como é o caso do Brasil, podem absorver este impacto e se beneficiar do aumento internacional do preço das commodities agrícolas.

Ele ainda destaca três empresas que podem se beneficiar desta situação, são elas: Brasil Agro, São Martinho e Jales Machado.

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  • Frigoríficos

Os frigoríficos que são focados em aves e suínos devem sofrer mais impactos negativos pelo aumento do preço das commodities, devido a seus custos serem guiados por milho e soja. Esse é o caso da BRF e Seara, do grupo JBS.

Vale ressaltar que a Seara é relativamente pequena dentro da JBS, as estimativas sugerem que 9% do custo total da JBS é representado pela Seara, além disso, a empresa possui alta diversificação geográfica, sendo assim a visão para a empresa é mista. Por preferência, o analista sugere a Marfrig por ser 100% focada em carne bovina.

  • Ambev

Os impactos no preço das commodities podem surpreender a companhia no planejamento dos seus custos anuais.

  •  Transportes

Pedro Bruno, analista de transportes e Co-Head de Equity Research da XP, comentou sua visão para as empresas de transporte.

Diante da atual crise, o analista tem uma visão positiva para a empresa Rumo Logística e negativa para as companhias aéreas.

No caso da Rumo, é possível ver dois impactos que as pessoas, geralmente, não se atentam. O primeiro é a alta do combustível, cerca de 40% dos custos da empresa se devem a esse componente, basicamente óleo diesel.

Porém, para se proteger desse risco, a empresa possui, junto a seus clientes, contratos onde repassar o aumento no preço do combustível. Esse fato é benéfico para a empresa porque seu maior concorrente é o caminhão. 

Cerca de 30% do custo de um caminhão é o diesel, e essa modalidade de transporte não consegue repassar os custos para os clientes imediatamente, assim na margem, o transporte ferroviário fica mais atrativo. Positivo para Rumo, e parcialmente Hidrovias do Brasil.

No campo negativo estão as empresas aéreas, pois são muito impactadas no preço do petróleo. Em torno de 55% do custo das empresas aéreas é dolarizado, e 30% a 35% deste custo é referente ao combustível, querosene de aviação – outro item derivado do petróleo.

Certamente precisam repassar o custo adicional para o preço das passagens, e isso fará com que ocorra uma redução na demanda pelos clientes. Assim, a recomendação é Neutra para Gol e Azul.

  • Varejo

O setor não é diretamente afetado, mas uma inflação generalizada maior pode significar a diminuição do poder de compra dos brasileiros. Neste sentido, pode diminuir o consumo das pessoas, e os e-commerces seriam os mais afetados, com destaque para Via e Magalu.

Não há consenso e nem visão maior sobre o desenrolar da guerra. Pode ser que ela acabe em algumas horas, com a rendição da Ucrânia, ou que se intensifique com a participação de países como os Estados Unidos, o Reino Unido e a OTAN. 

Seja qual for o cenário, os analistas recomendam cautela e diversificação dos investimentos. É esperado uma alta volatilidade dos preços que comentamos acima como: dólar, petróleo, commodities agrícolas. 

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