Com fazendas dentro e fora do país, BrasilAgro expõe planos para o futuro da empresa
BrasilAgro registrou um lucro líquido de R$42 milhões e um EBTIDA de 107,1 milhões entre julho e setembro de 2022
A BrasilAgro é uma das maiores empresas brasileiras em quantidade de terras agricultáveis e com foco na aquisição, desenvolvimento, exploração e comercialização de propriedades rurais com aptidão agropecuária.
Desde o início das operações em 2006, A BrasilAgro adquiriu um total de 14 propriedades rurais, sendo que já realizou a venda de quatro fazendas. O plano de negócios contempla a valorização de propriedades rurais como o principal vetor de retorno financeiro.
Além disso, a empresa anunciou um lucro líquido de R$42 milhões e um EBITDA de 107,1 milhões no trimestre de julho a setembro de 2022. O objetivo da BrasilAgro é adquirir propriedades rurais que tenham um significativo potencial de geração de valor por meio da manutenção do ativo e do desenvolvimento de atividades agropecuárias rentáveis.
A BrasilAgro possui fazendas em seis estados brasileiros, além de Bolívia e Paraguai, em uma região de fronteira. No Brasil, as propriedades estão localizadas no Piauí, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia.
A partir do momento da aquisição das propriedades rurais, a empresa implementa culturas de maior valor agregado e transforma essas propriedades rurais com investimentos em infraestrutura e tecnologia.
O iHUB Lounge conversou com a Ana Paula Ribeiro Gama, Head de Relações com Investidores na BrasilAgro e Diretora do Instituto BrasilAgro para entender mais sobre a estruturação e os próximos passos da empresa.
- Como surge a BrasilAgro?
Ana Paula: A empresa começou com a ideia de três acionistas de investir em fazendas, um deles já tinha envolvimento com agronegócio – a empresa argentina Cresud –, que se juntou com outros dois brasileiros: o Elie Horn, como pessoa física, e a empresa Tarpon Capital. Juntos, buscaram um local que pudesse gerar uma expansão no agro e o Brasil é o lugar ideal para expansão agrícola.
O mote da BrasilAgro seria adquirir terras, torná-las produtivas e, em seguida, realizar a venda dessas terras. Ao invés de agir, eles listaram o negócio na B3, porque a ideia era maior do que o capital que eles tinham para iniciar. Com isso, a empresa começa com um plano de negócios e 580 milhões de reais.
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Dentro disso, cada um dos fundadores contribuiu com sua expertise, a Tarpon nos investimentos e mercado de capitais. O Elie Horn trouxe a expertise em aquisições imobiliárias. A Cresud traz o know how de desenvolvimento e aquisição de terras com um potencial de geração de valor.
Anteriormente, a ideia era comprar terras com foco em criar um banco de terras, que tivessem um potencial de transformação e geração de valor para vender em seguida em diversos setores. O projeto envolvia majoritariamente o setor de grãos, gado, cana de açúcar, mas tinha a intenção de expandir também para plantação de eucaliptos, por exemplo.
Então, esse era o plano inicial. Com essa primeira capitalização da companhia, foi feita a primeira leva de aquisições que tinha uma característica muito mais de construir uma fazenda, logo, foi focada no cerrado, fazendo todo o processo de licenciamento para a fazenda.
- Como se desenrola esse plano inicial da BrasilAgro?
AG: Os cinco primeiros anos da BrasilAgro foram intensos financeiramente porque foi o momento de construção de um portfólio com aquisições em diferentes lugares do Brasil e com grandes extensões de terra, necessitando de muito investimento para transformar isso. Afinal, a conta desse investimento envolve o que você investe na compra e na transformação, sendo que você consegue vender depois a 5 ou 6 vezes o que você investiu.
Passada essa primeira fase, que também inclui a construção de times, processos e de sistemas. A BrasilAgro foi a primeira empresa a implementar o SAP na gestão da fazenda e com isso, tem tudo da fazenda nesse sistema. Além disso, a gestão da maioria dos processos está no SAP atualmente.
Com o passar dos anos, atingimos uma maturidade no portfólio, que é quando não há mais possibilidade de investimento ativo e sim de valorização basal daquela terra que é mais resistente e madura, é sinal de que chegou o momento de começar a vender essas propriedades.
O segundo ciclo da companhia se inicia no instante em que começamos a vender as terras que já estavam maduras após seis anos da criação da empresa. A escolha de vender as terras nesse estágio de produção é pensada pelo fato de que o valor da terra é calculado pelo múltiplo do que ela produz.
Uma terra que produz cana vale mais como a terra que produz grão, uma terra que produz algodão vale mais que a terra que produz, uma vez que o grão que vale mais do que pasto, logo tem todas essas coisas que são implementadas no decorrer do tempo.
- Vocês têm algum nicho específico de produção, seja só grãos, pecuária, etc.?
AG: Temos pecuária, grãos (soja, milho, feijão, etc.), algodão e cana de açúcar. A pecuária para a BrasilAgro é o primeiro passo da transformação da terra. Quando se está com uma terra que precisa de mais fertilidade, pode-se começar com pecuária por alguns anos para aumentar a matéria orgânica no solo.
Em seguida, é possível iniciar a agricultura. Existem áreas, por exemplo, que não dá para fazer agricultura sempre, sendo necessário realizar a integração pecuária lavoura por questões técnicas.
- A partir do segundo ciclo da BrasilAgro, como os negócios se desenvolveram?
AG: Quando chegamos nesse estágio de começar a vender, percebemos que tinha uma questão na nossa estratégia que não estava funcionando. Tínhamos como modelo de negócios operar e trabalhar somente em terras próprias e o que que acontecia é que a fazenda quando estava gerando muito dinheiro eu vendia.
Logo, nesse ano eu tinha um balanço extremamente robusto de operação, de resultado, de fluxo de caixa, uma receita gigante de ganho imobiliário daquilo que eu vendi e, no ano seguinte, não tínhamos nada porque a fazenda que dava maior lucro foi vendida.
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Já havíamos contabilizado o valor do que estava no portfólio e começava novamente do ponto zero. Existia uma volatilidade grande no nosso resultado, que acabava impactando o mercado, afinal, quem que quer comprar uma ação que em um ano supera o resultado e no ano seguinte, está em zero ou até no prejuízo? Isso penalizava o acionista e também deixava a companhia numa situação de balanço mais complicada.
Por isso, mudamos a estratégia e colocamos para dentro do portfólio terras arrendadas e maduras em regiões mais estáveis de altíssima produtividade.
Entendemos que até 50% do que a gente tem em produção, sendo em áreas plantadas arrendadas é um mix saudável para a companhia. Buscamos sempre ter do total de áreas plantadas: metade área própria e metade área arrendada em regiões do Brasil. Majoritariamente estão no Mato Grosso, com exceção de cana de açúcar que está localizada em outras regiões. Isso possibilitou que os nossos balanços ficassem mais estáveis e robustos, permitindo que pudéssemos focar em alavancagens mais agressivas.
Dividindo a história da BrasilAgro em três fases, nós temos uma fase mais operacional, uma segunda parte para a mudança de estratégia e a terceira fase em que estamos focando na expansão mais agressiva. Hoje, temos, independente da venda de fazendas ou não, uma operação que está gerando um EBITDA de aproximadamente R$400 milhões por ano.
- A crise que estamos passando com o juros altos, tanto no Brasil como no exterior, está afetando o preço no mercado agrícola? Ou esse mercado por alguma razão está mais blindado?
AG: O preço das commodities está caindo, mas continua em um patamar razoável. Estamos vendo a curva se normalizando, mesmo que o preço esteja alto. Também temos um ponto de inflexão porque o lugar mais caro e o maior produtor de soja do mundo é o Mato Grosso, mas lá existe todo um custo de produção e logística.
O impacto se manifesta mais na liquidez do que no preço propriamente dito, por mais que o valor do dólar possa afetar o setor, o mercado agrícola tem um funcionamento um pouco diferente. O produtor médio da agricultura no Brasil tem cerca de 6 mil hectares de terra. Então, é bastante relevante.
No entanto, o setor que tivemos maior dificuldade foi nas aquisições, por conta dos juros e preços de terras altos, o que torna as avaliações de novas terras mais difíceis. Por outro lado, o bom desempenho do setor permitiu realizarmos ótimas transações do lado de vendas.
O agro em geral vem de cinco anos em que o papel dos grandes bancos públicos nesse setor era maior. Isso está mudando e o caminho agora para financiar os negócios do agronegócio aparenta estar voltando para o mercado de capitais, especialmente para os grandes produtores, com a emissão de CRA ou debêntures.
- Como as dívidas da empresa interferem no balanço econômico?
AG: Podemos fazer alguma nova emissão, ou alguma operação bilateral, dependendo das condições que estiverem no mercado no momento. Como temos uma posição de caixa confortável, e não temos a necessidade de fazer uma emissão de imediato, então temos a margem para esperar o melhor momento.
Como o portfólio da companhia é concentrado na região nordeste, nós temos acesso aos fundos condicionados do FNO, via Banco do Nordeste (BNB), então, esse também é um player importante no financiamento das operações da companhia, mas não conseguimos fazer a captação de todo o capital de giro que necessitamos.
A nossa necessidade de capital de giro está na casa dos 400 milhões anuais. Em 2021, foram captados 240 milhões, enquanto em 2018 foram 142 milhões. A última captação bilateral mais recente que tivemos foi de 170 milhões de reais, com o BNB para custeio dessa safra.
- Existem novas tecnologias para o setor agro?
AG: Não temos nada vindo de pesquisas e novas tecnologias numa visão disruptiva, mas por outro lado você tem uma centena de novas tecnologias para controle e gestão de operação que acabam gerando um ganho no final do dia, isso é uma das coisas que ajuda a produzir em áreas que antes não se pensava em produzir.
Existem vários avanços, por exemplo, as sementes que estão no mercado, são sementes mais resistentes a mudanças climáticas e a solos menos férteis. Elas não aumentam a produtividade, a fim de que não se precise de expansão de terra, mas por outro lado, elas são mais resistentes a regiões que não possuem o clima e solo perfeitos.
Assim como, as fazendas possuem estações meteorológicas, logo, o técnico agrícola tem em tempo real no computador onde está chovendo, a quantidade que está chovendo, aumentando o controle da safra.
Na gestão de pragas, é possível ter uma foto de satélite para saber se é necessário mais aplicação de herbicida. A gestão de aplicação de defensivos, como é aplicado com avião, há uma série de implementações de tecnologia de gestão, que ajudam a melhorar a produtividade, diminuição de custos e isso é uma coisa que toda a cadeia tem acesso.
O Brasil é um dos países mais avançados em tecnologia agrária do mundo, quando você fala em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil é ponta. Em máquina os americanos e australianos são bons, mas quando você vai para a área de pesquisa e desenvolvimento é bastante competitivo.
Há uma profissionalização do campo, que não era visto antigamente, vide o boom dos IPOs do agro que tivemos, creio que grande maioria são de empresas familiares, tanto de sementes, bioquímicos, insumos, são empresas que nasceram familiares, cresceram e foram para a bolsa.
O segundo maior investimento é em tecnologia de gestão da operação, dentro disso, tudo se faz pelo celular, e estamos indo para esse caminho no campo. Hoje, apenas a sede da fazenda possui internet, as máquinas coletam dados no campo, voltam para a sede, descarregam num sistema e você faz o gerenciamento das informações.
Atualmente, buscamos levar internet 4G para a fazenda toda. O motivo disso é tornar mais efetivo o que vem sendo feito. Temos uma meta de que todas nossas unidades tenham que ter internet no campo todo, fazendas que de ponta a ponta tem mais de 50 km.
- Qual o faturamento da empresa atualmente?
AG: O faturamento de 2022 foi de 1,2 bilhão de reais. Importante destacar que nosso ano contábil vai de junho a julho. No ano passado, tivemos resultados recordes na operação, com margens jamais vistas. Para o próximo exercício, que se encerra em 30 de junho de 2023, as margens devem voltar para a média histórica.
A mensagem para o acionista é que a companhia está super sólida, como sempre. Continuamos com a mesma ideia de crescimento da companhia, vamos continuar crescendo. Os resultados serão bons, não outstanding, como o ano passado e é de se esperar que a companhia cresça mais, porque são anos que estamos vendo que será uma safra diferente, além de novas oportunidades no imobiliário, que é o nosso diferencial, o qual traz maior retorno para o acionista.
Se você for olhar nossos retornos historicamente, temos uma recorrência muito grande na operação, mas damos os maiores retornos para os acionistas em dividendos e preço da ação e etc, quando temos vendas de fazendas importantes, como foi no exercício passado. E será no próximo, com as vendas anunciadas recentemente.
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