Pablo Spyer comenta ao iHUB Lounge sobre o filme “Tudo ou Nada”, que conta a história de Eike Batista
Entenda o sucesso e a queda de Eike Batista, um dos empresários mais conhecidos do Brasil.
Por Paulo Cunha e Leticia Puttini
“Tudo ou Nada”, um dos primeiros relatos no cinema sobre a história de Eike Batista, interpretado pelo ator Nelson Freitas, chega às telonas nesta quinta-feira, dia 22 de setembro. O longa traz um recorte da vida do ex-bilionário, com início em 2006 e mostra a vida pessoal e trajetória profissional do empresário mineiro, inclusive o casamento midiático com Luma Oliveira; ex-modelo, atriz e, na época, rainha da bateria.
Nessa época, a economia brasileira deslanchou muito por conta do pré-sal e Eike Batista decide criar a petroleira OGX, contratando os melhores homens da Petrobras para participar do leilão do pré-sal. No drama, é visto de perto como as dívidas levaram Eike Batista à falência com a derrocada da OGX.
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A história de Eike Batista
Eike Batista já foi o 8º homem mais rico do mundo, segundo a Forbes, em 2010. Uma fortuna estimada em cerca de US$30 bilhões, na época.
Erros de gestão, problemas de governança e volatilidade das ações, além da falta de transparência, conflitos de interesse e infrações a normas e leis foram decisivos para o declínio dos negócios.
A construção do império do empresário teve início muitos anos antes. No começo da década de 1980, Eike Batista fundou a Novo Planeta, primeira planta aurífera aluvial mecanizada da Amazônia.
A partir disso, uma série de empresas seriam criadas para atuarem de forma sinérgica, sobretudo nos setores de infraestrutura e recursos naturais. Para gerenciar essas companhias que atuavam nos segmentos de mineração, petróleo, gás, logística, energia, indústria naval e carvão mineral, foi constituído o grupo EBX.
Além disso, o grupo também liderava iniciativas nos setores imobiliário, de tecnologia, entretenimento, esporte, mineração de ouro e catering aéreo e ferroviário.
Como ponto em comum, todas as empresas do império de Eike Batista tinham a letra X, que significava o poder de multiplicação da riqueza.
No período entre 2004 e 2012, Eike estruturou e abriu o capital de seis companhias: OGX (óleo e gás), MMX (mineração), LLX (logística), CCX (carvão mineral), MPX (energia), OSX (indústria naval especializada em exploração marítima).
Também nesse período, Eike captou investimentos de 26 bilhões de dólares para as empresas que levou à B3. Inicialmente, a valorização dos papéis foi meteórica. As empresas de Eike Batista atraíram diversos investidores, que viam ali a oportunidade de ganhar lucros expressivos.
As Empresas X
No entanto, passado alguns anos, os resultados prometidos não vieram e as ações das empresas X sofreram uma queda drástica na Bolsa.
Atualmente, Eike Batista acumula dívidas, tem investimentos enormes a fazer, pouco dinheiro em caixa e, pior, ninguém está disposto a financiá-lo. É interessante analisar as empresas do grupo EBX que estão listadas na Bolsa de Valores, desde suas ascensões promissoras até a queda, que resultou na falência da maioria delas.
MMX
A MMX foi criada por Eike Batista em 2005 para atuar no segmento de mineração. A empresa tinha como objetivo a extração, o beneficiamento, a pesquisa e desenvolvimento mineral e a venda de minério de ferro. Um ano após a sua criação, a MMX passou a ter suas ações negociadas na Bolsa e, com isso, ganhou reconhecimento no segmento de mineração nacional.
A empresa entra em um período de expansão das atividades. No Brasil, foi criado um sistema composto pela MMX Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e MMX Sudeste, esta última constituída por duas unidades: Serra Azul e Bom Sucesso, ambas em Minas Gerais. A companhia também expandiu sua atividade internacional com a criação da subsidiária Minera MMX, no Chile.
A empresa vivia um período próspero, que se refletia no desempenho dos papéis na Bolsa. Em junho de 2008, as ações da MMXM3 apresentaram a maior valorização desde o IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês), com uma alta de 492% em pouco mais de dois anos.
Entretanto, pouco depois disso as ações passaram a ter um desempenho típico de papéis especulativos: com altas e baixas muito acentuadas. O contexto gerava muita insegurança para os investidores e o que havia sido prometido por Eike Batista na época do IPO não estava se concretizando. A produção anual de minério de ferro sempre vinha muito abaixo das expectativas.
As operações da MMX começaram a sofrer com a queda do preço do minério de ferro. Ao mesmo tempo, a companhia foi prejudicada pelas restrições impostas pelo órgão ambiental do Estado de Minas Gerais.
Fonte: TradingView
De 2011 pra cá, as ações entraram em processo de queda vertiginosa. Nesse cenário de deterioração no ambiente de negócios, a companhia comunicou ao mercado, em outubro de 2014, a recuperação judicial da MMX Sudeste. Com a empresa em crise, a MMX solicitou em 25 de novembro de 2016 a recuperação judicial em conjunto com a subsidiária MMX Corumbá.
Com a falência decretada em maio de 2021 pela justiça, a MMX Sudeste conseguiu entrar com recurso para a suspensão da mesma. Já a MMX Corumbá e a controladora MMX Mineração e Metálicos mantiveram a falência decretada pela justiça em maio de 2021.
Diante desse cenário de caos, a Bolsa suspendeu as negociações das ações MMXM3, o que trouxe impactos bastante negativos para os investidores, já que, em caso de falência, eles são os últimos na lista de pagamento e nem sempre são contemplados.
OGX
No segmento de óleo e gás, a OGX foi criada em 2007 para ser a responsável pela maior campanha exploratória privada de petróleo e gás natural no Brasil. Nesse contexto, a companhia possuía um portfólio composto por 30 blocos exploratórios no Brasil, nas Bacias de Campos, Santos, Espírito Santo, Pará-Maranhão e Parnaíba. Além de quatro blocos exploratórios na Colômbia, nas Bacias de Cesar-Ranchería e Vale Inferior do Madalena.
No entanto, a empresa que surgiu como uma das uma das maiores promessas do mercado, pouco tempo depois viria a decepcionar os investidores. Nesse braço do grupo EBX, os resultados prometidos também não vieram.
Um exemplo disso foi o que aconteceu na primeira semana de produção do campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos. Na época, a OGX informou que esperava uma produção de 15 mil barris ao dia em cada um dos quatro poços. Entretanto, seis meses depois descobriu-se que eles tinham capacidade para cinco mil barris ao dia cada um.
A partir de então, após anunciar que não iria cumprir suas ambiciosas metas de produção, a OGX dá início a seu colapso. Com a crise de confiança instalada, a companhia acabou indo à lona e levou junto boa parte dos investidores que acreditaram nas promessas de Eike.
A empresa estreou na Bolsa em 13 de junho de 2008 com ações negociadas sob o ticker de OGXP3, no preço de R$11,31. Poucos meses depois, em outubro de 2008, o ativo atingiu a mínima de R$2,50. Entretanto, impulsionado pelas notícias infladas divulgadas pela companhia, as ações da OGX atingiram sua máxima histórica em 14 de outubro de 2010, com R$23,39. Já no final de agosto de 2013, os ativos eram negociados próximo a R$0,30.
Com cerca de R$13 bilhões em dívidas, a OGX entrou em recuperação judicial em outubro de 2013. Logo em seguida foi absorvida pelos credores e se tornou inicialmente a OGSA. Mais tarde, sob nova gestão, passou a ser denominada Dommo Energia.
CCX
A CCX representava a empresa de mineração de carvão do grupo EBX criada a partir da cisão dos ativos de mineração de carvão da MPX na Colômbia. A companhia estreou na Bolsa em 25 de maio de 2012, sob o código CCXC3.
Poucos meses depois, em janeiro de 2013, o empresário manifestou intenção de fechar o capital da companhia. Um dia antes do anúncio, os papéis chegaram a 45,31% de queda ou R$0,70 de valor unitário. Mas a piora das condições do mercado levou Eike Batista a desistir da oferta pública de ações da CCX.
O negócio para fechar o capital da CCX previa que os acionistas minoritários recebessem papéis de outras empresas do grupo EBX na bolsa, entre elas: LLX, MMX, MPX, OSX e OGX. Desde o final de 2016, a companhia se encontra em processo de descontinuidade operacional, após a venda dos principais ativos operacionais.
LLX
A LLX, criada em 2007, correspondia à companhia de logística do grupo e coordenou a construção do Superporto do Açu, em São João da Barra (RJ), considerado o maior complexo porto-indústria da América Latina.
Poucos anos depois, as expectativas dos investidores foram frustradas. O segundo trimestre de 2011 foi marcado por um prejuízo líquido de 15,3 milhões de reais. No mesmo período de 2012, a LLX reportou um prejuízo líquido de R$6,9 milhões de reais.
A companhia de logística justificou o resultado informando que houve um aumento das despesas financeiras devido ao maior endividamento referente à contratação de empréstimo junto ao BNDES.
Em setembro de 2013, a LLX anunciou que deixaria o grupo EBX, de Eike Batista, passando a ser do fundo EIG através de um investimento de R$1,3 bilhão. Com o negócio fechado, as ações da LLX na Bolsa de Valores de São Paulo tiveram forte alta, de 17,05% no dia do anúncio. A partir de então a companhia passou a se chamar Prumo Logística Global.
MPX
Na área de energia, a MPX foi criada logo após o racionamento de 2001, para ser a maior geradora de energia térmica de capital privado do país A companhia detinha quatro empreendimentos com energia vendida: UTE Porto do Pecém I e II (“Energia Pecém” e “MPX Pecém II”), UTE Porto de Itaqui (“MPX Itaqui”) e UTE Serra do Navio.
A MPX estreou na Bolsa em dezembro de 2007, listada com o ticker MPXE3. Com a oferta de ações, a empresa controlada pelo empresário Eike Batista levantou R$1,91 bilhão. No fim de março de 2013, Eike anunciou a venda de ações da MPX para a alemã E.ON, se transformando na empresa Eneva.
OSX
A OSX é uma companhia de construção naval que foi criada em outubro de 2009 para dar suporte à OGX, outra companhia do grupo EBX. Um ano depois, a Hyundai Heavy Industries anunciou um acordo de compra de 10% das ações da empresa por valor não revelado.
As ações ordinárias da OSX começaram a ser negociadas na Bolsa em março de 2010. A oferta arrecadou R$2,8 bilhões, enquanto a expectativa era de R$10 bilhões. Esse braço do grupo, assim como os demais, sofreu por não cumprir os resultados prometidos.
Isso incluiu o cancelamento de encomendas de unidades que seriam construídas na Unidade de Construção Naval do Açu (“UCN Açu”). Além de contratos de afretamento e operação e manutenção de unidades FPSOs e WHPs.
Com o agravamento da situação financeira da OSX, a companhia entrou em recuperação judicial em 2013, quando a empresa tinha dívidas de cerca de R$5,3 bilhões. Passados sete anos, ao final de 2020 a OSX finalizou o processo de recuperação judicial atendendo todas as solicitações da justiça.
Um dia após esse anúncio, as ações da companhia dispararam e fecharam o pregão em alta de 157%, cotadas a R$27,00. A OSX segue negociando seus ativos na Bolsa.
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A história abordada no filme
O filme traz de perto as relações com a classe política de Eike, as negociações com os investidores estrangeiros e todo o processo de abertura de capital das companhias. A trajetória de ascensão e a queda do império Eike Batista tornou-se uma marca registrada na história do mercado financeiro brasileiro, e ainda foi equiparada à quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos.
O elenco também conta com Thelmo Fernandes, Marcelo Valle, Bukassa Kabengele, Juliana Alves e Xando Graça interpretando os funcionários da OGX, além de Jonas Bloch e André Mattos. Carol Castro interpreta Luma de Oliveira.
Com participação de Pablo Spyer, economista, sócio da XP Investimentos, CEO Vai Tourinho S/A, apresentador Jovem Pan e conselheiro Ancord. “Fiquei muito honrado em participar desse filme. Alguém precisava contar a ascensão e queda de Eike Batista, um dos empresários mais conhecidos no país. Em apenas 5 anos, Eike conseguiu subir e cair no ranking de bilionários. Em 2008, apareceu apenas na 142ª posição do levantamento da Forbes dos mais ricos do mundo. E em 2012 chegou à 7ª posição. Mas a queda foi igualmente rápida. Sua vida deixa várias lições. Um personagem do mundo empresarial e do mercado financeiro muito interessante. Todo o mundo tem curiosidade em saber mais sobre ele, o qual teve um império que ruiu.”, comenta Pablo Spyer, em entrevista exclusiva ao IHUB Lounge.
De fato, aprendizados importantes são retirados da história do ex-bilionário, por exemplo, entender como falhas de governança e gestão podem destruir em instantes o valor de uma empresa, negócio ou marca.
“O filme consegue sintetizar toda a perda de fortuna, poder e prestígio de Eike e toda pressão psicológica que ele sofre ao ver sua empresa indo às ruínas. Como telespectadora, conseguimos sentir na pele, todo o desespero de Eike. Ele era um empresário bastante ousado e pronto para assumir todos os riscos e problemas que apareciam, indo do prestígio à falência. Uma história triste do Brasil e que, ao mesmo tempo, traz consigo muitos aprendizados”, relata Leticia Puttini, embaixadora da XP Investimentos.
Será que a história poderia ter sido diferente, apesar das falhas de governança?