Por Paulo Cunha 08 de outubro 2025
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Entre o barulho das redes e o silêncio dos fatos, entenda o que realmente aconteceu com os COEs da Ambipar e da Braskem, e o que esse episódio ensina sobre risco e consciência ao investir.

Edição #007

Nos últimos dias, o caso dos COEs ligados à Ambipar e à Braskem virou assunto quente nas redes e na imprensa. Como de costume, bastou a notícia de que investidores tiveram perdas expressivas para surgirem vídeos indignados, teorias conspiratórias e a velha onda de comentários dizendo que “a corretora lucra com o prejuízo do cliente”. É curioso como, em tempos de superficialidade, qualquer história complexa vira vilã em poucos segundos de tela.

Mas antes de engrossar o coro do caos, vale entender o que realmente aconteceu.

Os COEs, ou Certificados de Operações Estruturadas, são produtos financeiros que combinam diferentes ativos dentro de uma mesma estrutura. O retorno — ou a perda — depende do comportamento desses ativos ao longo do tempo. Eles não são renda fixa tradicional, porque têm mecanismos de proteção condicionais. Isso significa que a proteção do capital só existe se certas regras forem respeitadas.

Nos COEs conhecidos como Bondrepack, por exemplo, existe uma cláusula chamada “desarme”. Ela diz que, se o ativo de referência cair mais de 50% em relação ao valor inicial, a operação é encerrada e o investidor recebe apenas o que restar — o valor residual possível. Em tese, é uma forma de limitar perdas em cenários extremos, mas o risco existe e precisa ser entendido antes de investir.

No caso específico da Ambipar e da Braskem, os COEs estavam atrelados a bonds, títulos de dívida dessas empresas emitidos no exterior. E aqui é importante separar as duas situações, porque são bem diferentes.

A Ambipar é uma empresa menor, com uma estrutura de capital mais frágil e envolvida recentemente em investigações e suspeitas de fraudes contábeis. A confiança do mercado derreteu, e a recuperação desses papéis deve ser mais difícil. Nesse tipo de cenário, o investidor que entrou em produtos lastreados em títulos da empresa acaba sendo o último da fila — o risco é real e o prejuízo, infelizmente, concreto.

A Braskem, por outro lado, é uma companhia grande, líder no seu setor e a única do ramo petroquímico de grande porte no Brasil. Apesar das questões ambientais e políticas, possui ativos relevantes, fábricas operacionais e um papel estratégico na cadeia industrial do país. Isso não elimina o risco, mas muda completamente a probabilidade de recuperação. É o tipo de empresa que, por sua importância, tende a contar com suporte — seja via negociação com credores, seja por interesse do próprio governo em evitar uma crise industrial.

Essas diferenças mostram algo simples, mas que muita gente ignora: não é o COE que é bom ou ruim, é o ativo por trás dele. Assim como uma debênture, um CRI, um CRA ou um bond, tudo depende da qualidade de quem emite a dívida.

O que aconteceu agora é uma versão mais visível de um problema antigo: quando o investidor compra risco sem entender de onde ele vem. Em tese, todos esses produtos explicam claramente os riscos no termo de adesão, mas nem sempre essa informação é lida e absorvida. É fácil confundir “produto sofisticado” com “investimento seguro”.

É exatamente nesse ponto que mora o papel de quem acompanha o investidor de verdade. Muita gente nas redes aproveita esses momentos para atacar corretores e assessores, mas esquece que são justamente eles que gastam horas analisando produtos, recusando emissões ruins e filtrando aquilo que chega até o cliente final.

A iHUB, por exemplo, nunca ofereceu COEs de Ambipar ou Braskem. Dos mais de seis mil clientes, apenas sete possuem esses papéis — todos vindos de outras casas ou de investimentos feitos antes de se tornarem nossos clientes. Isso não é coincidência; é resultado de um processo seletivo que prioriza segurança, governança e liquidez.

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O ruído das redes transforma qualquer perda em escândalo, mas é nas perdas que se aprende a diferença entre um investimento bem avaliado e um chute no escuro. Quando o mercado está otimista, todo mundo parece gênio. É só quando a maré baixa que se descobre quem estava nadando sem colete.

No fim das contas, a maior lição que esse episódio deixa é a de que investir exige compreensão, não apenas opinião. É fácil acusar o sistema; difícil é compreender o risco, aceitar que ele faz parte do jogo e aprender a conviver com ele de forma inteligente.

A Ambipar pode não se recuperar. A Braskem provavelmente vai se reerguer. E o Investidor Consciente vai sair dessa discussão um pouco mais maduro.

Porque, no mercado, o que realmente protege o patrimônio não é o produto, nem a corretora, nem o algoritmo — é o entendimento. E, principalmente, ter alguém ao lado em que você possa confiar, que saiba o que está fazendo enquanto o resto grita nas redes.

Nos vemos na próxima edição.

— Paulo Cunha