Mercado de luxo é foco para novo CEO da Gafisa
Gafisa conseguiu um aumento de capital de cerca de 78 milhões de reais e uma valorização em suas ações
Diante de um cenário de disputa entre acionistas e gestão administrativa, os papéis da Gafisa observaram uma grande valorização entre o fim de 2022 e o início de 2023. De 28 de dezembro a 6 de janeiro, as ações da incorporadora e construtora acumularam alta de 259,37%. Em um único pregão, no dia 3, a ação avançou 50,42%.
O primeiro rali da bolsa em 2023 acontece graças a um posicionamento do conselho administrativo da empresa, que aprovou um aumento de capital de R$150 milhões, ao passo que acionistas convocaram uma assembleia geral extraordinária para questionar os rumos da empresa e cancelar o aumento de capital.
O desfecho final, após superadas batalhas judiciais e discussões na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a companhia saiu vencedora e conseguiu levar adiante um aumento do capital aberto em 78,1 milhões de reais. Para o recém-chegado CEO, Henrique Blecher, o aumento de capital é necessário para a aquisição de terrenos, fortalecimento do caixa da tradicional empresa e desenvolvimento futuro.
“A Gafisa é uma grande empresa nacional com 68 anos de história. Com mais de 1.200 empreendimentos entregues, faz parte da vida do país já que uma em cada 130 famílias vive em um empreendimento nosso. Isso dá perspectiva para o futuro”, comenta.
A missão do novo management é dar tração ao turnaround da empresa, que passou por períodos de queda ao longo dos últimos anos. Cenários controversos para o setor imobiliário e inflação são desafios para o CEO.
Como estratégia, Blecher trouxe o mercado de alto padrão para o ponto focal da empresa, solidificando o caixa com a proposta de valorização. Uma das ações para ingresso no mercado premium foi a aquisição da incorporadora Bait, incorporadora que ocupa lugar de destaque no que se refere a projetos de alta renda, focados na Zona Sul do Rio de Janeiro.
A nova identidade, os planos para o futuro e os desafios de gestão pautaram a entrevista de Henrique Blecher para o iHUB Lounge:
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Você tem um histórico de sucesso no mercado financeiro e com a Bait, adquirida pela Gafisa, baseado no alto retorno de investimento, atingindo margens positivas para o mercado. O que a Gafisa espera da sua atuação como gestor? Um foco maior no retorno para acionistas ou participação de mercado e consolidação da marca?
Trago para a Gafisa tudo o que aprendi e vivi no mercado nesses últimos anos. A Gafisa, assim como praticamente todo o mercado imobiliário, se encontra num momento de retomada e com diversos desafios pela frente.
Confio que posso agregar com mudanças inovadoras, sobretudo em relação aos produtos de alto e altíssimo padrão, nosso grande foco, complementando com maior eficiência em estruturações financeiras, marketing, vendas e gestão.
Encontrei na Gafisa uma equipe muito experiente e resiliente, acostumada a passar por grandes desafios, pessoas que estão na empresa há muitos anos e viveram grandes mudanças, sendo elas positivas e algumas vezes negativas sem perder o ânimo. Fiquei bastante animado.
Vocês têm um projeto de redirecionamento da marca Gafisa para o mercado premium, certo? Como surgiu esta proposta de valor e como ela se comporta neste momento político/econômico tão desafiador ?
Essa é uma transformação que já estava em andamento tanto na Bait quanto na Gafisa. Criamos a Bait num momento em que o mercado estava estagnado e tivemos grandes sucessos de venda do alto padrão do Rio de Janeiro, durante a pandemia.
As teses que eu acreditava desde 2013, quando estive na diretoria executiva de uma construtora do Rio, foram comprovadas, como a necessidade de produtos de alto padrão, desde estúdios a unidades maiores, mas sempre com valores favoráveis. Se a Bait fosse um fundo imobiliário de equity, teria sido um dos melhores dos últimos anos.
A Gafisa tinha como diretriz do seu planejamento estratégico desde 2019 a consolidação do seu portfólio de produtos imobiliários para clientes de alta renda. Essa estratégia é muito assertiva, visto que o mercado de imóvel de luxo tem maior resiliência na situação econômica atual, tanto na venda, quanto na locação. São eles que oferecem maior rentabilidade.
A empresa combinou a eficiência na concepção de produtos com design e personalidade, trabalhando com os melhores arquitetos e decoradores nacionais e internacionais. Além disso, nossos investimentos em aquisições de terrenos foram precisos nos endereços mais nobres de São Paulo e Rio de Janeiro.
Tudo isso mostra que é possível fazer mercado imobiliário pensando num produto que tenha efetiva geração de valor, fazendo boas escolhas que vão desde terrenos diferenciados, a uma estrutura de capital alternativa e criativa, mas tudo com muito critério, segurança e responsabilidade financeira, gerando resultado para investidores.
Qual será o maior desafio nesta gestão como CEO? Terá um foco maior na idealização dos projetos ou na gestão da empresa como um todo? Como administrará sua liderança?
É um desafio enorme assumir uma empresa como a Gafisa, com um histórico de realizações tão grandes. Estou me sentindo muito motivado e vejo isso como o resultado do que venho plantando há anos, sobretudo por conta do case da Bait, algo fora da curva para o mercado imobiliário do Rio de Janeiro.
A minha liderança terá foco em guiar o nosso momento de reposicionamento, buscando duas estratégias: foco total no mercado de alto e altíssimo padrão e maior geração de caixa.
A cultura que estou imprimindo na companhia é financeira. Temos que ser eficientes, lançar na hora certa, pois quanto mais demorarmos a lançar, mais cara fica a estrutura de capital. Também temos que ter o timing exato das vendas, para gerar resultado sem penalizar o preço do produto. Buscaremos eficiência em todas as fases da cadeia.
Além disso, nossa maior aposta agora é nas mudanças que faremos de produto, desenvolvimento de projeto, marketing, posicionamento de marca, agilidade, cultura. Estamos confiantes de que tudo isso vai agregar valor e aumentar o preço dos ativos da Gafisa.
O maior desafio de aquisições e fusões é a sinergia de culturas e estruturas profissionais, importantes para o retorno do investimento. Como a Gafisa está preparando esta integração e quais os maiores desafios que você têm vislumbrado?
Nós chegamos da Bait com um histórico de sucesso de vendas em alto padrão do Rio de Janeiro, um mercado muito mais difícil do que São Paulo. Então, temos boas lições para compartilhar. Realizamos uma integração que considera o melhor de cada uma das empresas.
Estavámos buscando os mesmos objetivos e por isso, somos muito sinérgicos, mas o fato é que juntos somos uma empresa muito maior, com mais canteiros de obras e lançamentos a realizar. Estamos todos numa fase de muita entrega e dedicação.
O mercado premium é bastante exigente e têm uma alta expectativa na experiência e inovação. Como você vislumbra este planejamento estratégico com um programa de redução de custo e ciclo implacáveis e ainda geração de caixa em um mercado tão desafiador?
Se trata de um momento importante de reposicionamento de uma marca muito forte e valiosa que é a Gafisa, e estamos utilizando a soma de todo expertise, background e know-how da Gafisa e da Bait para atuarmos em um segmento de alta renda, exclusivo, complexo e que possui alta expectativa na experiência da jornada do cliente.
Para essa transição, além da implantação de uma nova cultura financeira na companhia, focada em lucro sustentável, desenvolvemos projetos em regiões únicas e nobres e de alto valor agregado para os nossos públicos. Além disso, atuamos com parceiros estratégicos do mercado de luxo, para que possam trazer ainda mais insights para nossa estratégia.
Inovação e novas tecnologias do mercado de construção, nos auxiliam em vários aspectos do negócio, proporcionando maior redução de custos, otimização de tempo, e ganho de informação para desenvolvimento dos projetos.
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Qual o seu sonho para a Gafisa daqui a cinco anos? Expansão regional ou consolidação no setor premium?
A Gafisa é uma empresa forte, com 68 anos de atuação no mercado imobiliário, marcados pelo icônico triângulo da Companhia.
Estar a frente desta potência de empresa, me fez perceber que ela chegou aonde está hoje, por conta de um time altamente qualificado e dedicado e da sua inquestionável resiliência de mercado.
Neste sentido, eu chego para agregar ainda mais valor e somar. Estou focado em uma gestão de geração de caixa e em imprimir uma cultura financeira em todo o time, estamos nos transformando em uma empresa cada vez mais relevante, eficiente, transparente e rentável.
No que se refere a expansão, o nosso foco é a atuação nas regionais: São Paulo e Rio de Janeiro, praças que a empresa já atua, mas agora com um olhar para localizações nobres e desenvolvimento de projetos singulares, que nos consolidam cada vez mais no setor premium.
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