Por Paulo Cunha 02 de março 2023
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Com as notícias sobre o mercado financeiro, a renda fixa foi afetada e gera incerteza no investidor em 2023

Ao longo dos últimos anos, o aumento da taxa básica de juros vem atraindo cada vez mais investidores a migrar de investimentos mais arriscados para aplicações em renda fixa, aproveitando as elevadas taxas de retorno “sem risco”. 

No entanto, logo no início de janeiro, uma notícia inesperada abalou o mercado de crédito e derrubou a rentabilidade de praticamente todos os Fundos de Renda Fixa de Crédito Privado. 

O rombo bilionário no balanço das Americanas e sua consequente recuperação judicial obrigou os administradores dos Fundos a marcar posições em Debêntures das Americanas a apenas uma fração do seu valor nominal. Como muitos Fundos detinham ao menos alguma exposição a empresa, o efeito foi geral no mercado.

Gráfico, Gráfico de linhas

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No entanto, nem tudo é explicado apenas pelo “calote” da Americanas em si e para entender melhor o que está acontecendo vamos detalhar alguns pontos do efeito dominó causado pelas Americanas nos Fundos de Crédito:

  1. 1. Exposição direta a empresa: Para explicar rapidamente, se um Fundo possuía por exemplo 1% de exposição em Debêntures das Americanas antes do evento e no dia seguinte foi obrigado a marcar esses papéis valendo zero, o efeito na sua rentabilidade no dia seguinte seria de aproximadamente -1%. Nada muito gritante se fosse um Fundo com volatilidade, porém como é de renda fixa isso o faz ficar bem atrás do CDI quando avaliado em um período curto.
  1. 2. Aumento do prêmio de Risco Corporativo: A Americanas até ontem era uma empresa de rating AAA, considerada de muito baixo risco. Da noite para o dia, seus papéis viraram pó e não temos como saber ao certo quanto vai ser possível recuperar deles. 

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Sendo assim, o mercado começa a levantar dúvidas quanto a diversas outras empresas até então também consideradas saudáveis. O primeiro caso seria a Light, distribuidora do Rio de Janeiro que possui uma dívida elevada. O dia após o anúncio sobre a Americanas oferece um mercado bastante restrito para quem precisa contrair uma dívida nova e principalmente para quem já tem muita dívida no balanço. 

Com isso, os papéis dela também sofrem vendas maciças e são fortemente desvalorizados, causando uma nova marcação negativa nos fundos, como explicado no item anterior, porém em magnitude um pouco menor. Além disso, diversas outras empresas passaram por remarcação semelhante, causando o que chamamos de aumento dos spreads de risco. Na prática é uma desvalorização sistêmica dos papéis de renda fixa, mas não necessariamente calote.

  1. 3. Pedidos de resgate e baixa liquidez: O “investidor pessoa física médio” não atura rentabilidade negativa ou muito abaixo do CDI em um Fundo de Renda Fixa. Quando fecha o mês e ele percebe que o retorno foi pior que a poupança, solicita resgate para aplicar em CDB ou qualquer outra coisa mais “garantida”. 

Ao fazer isso o Gestor no Fundo precisa vender os papéis da carteira para honrar o resgate, o que em um momento de baixa liquidez faz com que os papéis sejam vendidos a um preço baixo e sejam novamente marcados negativamente afetando a cota do Fundo. Isso cria um ciclo vicioso, quanto mais resgates, pior a rentabilidade que gera mais resgates ainda. No entanto, a grande maioria dos papéis não apresentam problemas de pagamento das parcelas dos juros e são meramente afetados pelo efeito manada.

O que o investidor pode fazer?

Antes de responder a esta pergunta, devemos sempre ter em mente que cada pessoa possui um perfil e determinada tolerância ao risco. Agora, considerando que investidor possa aguardar o tempo necessário e que entenda as variações de mercado, tudo leva a crer que pode ser um bom momento para aplicar neste Fundos ou no mínimo manter a posição. 

Leia também: Qual investimento no Tesouro Direto é o melhor?

Para tentar entender como podem se comportar os Fundos de Crédito nos próximos meses podemos olhar o passado e ver o que aconteceu em um passado recente depois dos meses mais caótico no mercado durante a COVID. Naquele momento os fundos sofreram brutalmente com resgates e aumento do prêmio de risco, mas calote propriamente dito houve muito pouco. Ainda assim, em muitos casos vemos fundos de crédito de alta qualidade desabarem até 7% no período com a saída de muitos investidores.

No entanto, nos meses seguintes os retornos foram muito acima do considerado normal, com alguns casos conseguindo entregar até 700% do CDI após 12 meses do pior momento. O que demonstra que foi uma péssima decisão resgatar.

Gráfico, Gráfico de linhas

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Este movimento na Bolsa de Valores já é um pouco mais conhecido pelo investidor, porém quando olhamos os Fundos de Renda Fixa, não esperamos que possa ter uma reação semelhante, mas o fato é que eles podem sim apresentar estes momentos de stress e oportunidades. 

Um relatório da XP, cita alguns pontos importantes:

“O resultado fraco dos fundos de crédito em janeiro, pode sim ocasionar mais resgates de muitos investidores. Entretanto, não esperamos que os spreads sigam abrindo em decorrência desses resgates, já que uma grande parcela dos fundos de crédito estava com um caixa elevado – já existem gestores pontuando oportunidade de compra desses ativos dada a atratividade das taxas.”

“Entendemos que o mercado está passando ajuste nos spreads de crédito que devem se acomodar em patamares mais elevados, refletindo a aversão a risco e trazendo maior atratividade e retorno para esses fundos.”

“O mercado de crédito sempre tende a se regularizar, já que os preços atrativos podem trazer um fluxo comprador regularizando a oferta/demanda. Entretanto, assim como em 2020, o receio está no movimento contrário dos investidores, que não compreendem os riscos dos ativos e tendem a sacar em momentos do ciclo que oferecem justamente maior atratividade.”

Como sempre, é nas crises que o dinheiro troca de mãos.

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