Como o colapso do Banco Master fez uns ganharem e outros perderem
Como a liquidação do Banco Master expôs riscos ocultos, criou ganhos inesperados e reforçou a importância de entender o mercado de renda fixa.
Edição #014
O episódio do Banco Master segue rendendo desdobramentos e revelando nuances pouco conhecidas do mercado de renda fixa. Nas últimas semanas, investidores descobriram (alguns com surpresa) que era possível obter valorização expressiva em CDBs da instituição logo após a decretação de sua liquidação. Um paradoxo: um banco quebrado gerando lucros.
Mas, como quase tudo no mercado financeiro, essa “mágica” tem explicação.
O que aconteceu
Grande parte dos CDBs do Banco Master que circulavam no mercado nos últimos meses não foi adquirida diretamente na emissão primária, e sim no mercado secundário, onde investidores negociam títulos já emitidos.
Nesse ambiente, é comum que as taxas oferecidas pareçam muito acima das de mercado. Isso ocorre porque, na prática, o investidor está comprando o risco de crédito do emissor. Quanto maior o risco percebido, maior a taxa exigida para compensá-lo.
No caso do Master, que já vinha enfrentando desconfiança há algum tempo, os CDBs passaram a ser vendidos com deságio, isto é, abaixo do seu valor de curva.
Por que isso virou um “negócio da China”
Quando o banco entrou em liquidação, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) passou a atuar, garantindo a devolução de até R$ 250 mil por CPF por instituição, incluindo o rendimento na curva contratada, mas sem considerar o ágio ou deságio de mercado.
É justamente aí que mora o fenômeno curioso: Quem havia comprado esses papéis no secundário com deságio 1 dia antes de decretada a liquidação pagando, por exemplo, R$ 80 mil em um título que tinha valor de curva de R$ 100 mil — receberá do FGC o valor integral corrigido pela taxa original, e não o valor de compra.
Ou seja: uma valorização abrupta e totalmente atípica para esse tipo de ativo.
O ganho não veio de um bom timing de mercado ou de gestão ativa, veio de uma distorção técnica entre o valor de compra no secundário e o critério de pagamento do FGC, que reembolsa “na curva” e não “a preço de tela”.
Leia também: O caso Banco Master: Quando o risco se materializa
Para ilustrar:
• O investidor que comprou o papel direto do banco, lá atrás, ganhou apenas o que estava contratado.
• Já aquele que comprou o mesmo CDB com deságio acabou recebendo um retorno extraordinário, pois o FGC pagou o valor cheio, anulando o risco de crédito — algo raríssimo na renda fixa.
O outro lado da história
Apesar de parecer uma oportunidade “de ouro”, é importante lembrar que essa valorização foi acidental e não reproduzível. Ela ocorreu porque a liquidação aconteceu em um cenário específico, onde os papéis haviam migrado para o secundário a preços baixos e o FGC manteve o critério tradicional de pagamento “na curva”.
Ainda assim, há riscos importantes: O FGC não tem recursos ilimitados, seu patrimônio líquido é de aproximadamente R$ 120 bilhões, valor suficiente para cobrir crises pontuais, mas insuficiente diante de um evento sistêmico ou quebra generalizada.
Além disso, o episódio do Master deve gerar ajustes regulatórios. Há especulações de que o FGC possa alterar as regras de pagamento, limitando a restituição apenas ao valor principal investido (fato ainda meramente especulativo), o que reduziria distorções futuras. Outras medidas possíveis incluem maior regulação das plataformas de distribuição, que oferecem esses produtos, e uma nova capitalização do próprio FGC, antecipando contribuições dos grandes bancos para reforçar o caixa. O que pode apertar ainda mais a liquidez do sistema que já opera atualmente a taxas de juros bastante restritivas.
O que vem pela frente
O caso reacende uma reflexão importante: até que ponto os investidores realmente entendem o que compram quando buscam “taxas irresistíveis” no secundário?
A promessa de retorno elevado sempre vem acompanhada de um risco, explícito ou não. E, como vimos, às vezes o prêmio é pago, mas não pela genialidade do investidor: e sim pelo acaso.
O ano de 2026 tende a ser especialmente desafiador nesse sentido.
Teremos início da implementação da reforma tributária, mudança no Imposto de Renda, eleições presidenciais, Copa do Mundo e um calendário recheado de feriados, um conjunto de fatores que promete volatilidade, ajustes regulatórios e oportunidades para quem estiver bem assessorado.
A lição que fica
O caso do Banco Master é mais um lembrete de que não existe rentabilidade sem risco, e que o papel do investidor é entender o contexto completo de cada oportunidade, inclusive o que pode dar errado.
No fim, o episódio deixa duas lições claras:
- Nem todo ganho é mérito; às vezes, é apenas o acaso.
- O conhecimento continua sendo o melhor seguro contra o imponderável.
O investidor consciente sabe que o retorno é importante, mas entender de onde ele vem é o que realmente protege o patrimônio.
Nos vemos na próxima edição.
— Paulo Cunha
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