Por Paulo Cunha 24 de setembro 2025
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Quando todos acreditam que já sabem o enredo é justamente nesse momento que o mercado decide virar a página

Edição #005

A Bolsa brasileira segue desafiando o senso comum em 2025. Enquanto muitos ainda lambem as feridas do pessimismo do ano passado, o Ibovespa já acumula uma alta robusta. Para não ficar apenas no abstrato: a carteira Top Dividendos XP, a mais indicada aqui pela iHUB, soma mais de 28% de valorização só neste ano. O dólar, por sua vez, despenca. E, como se o mercado já não fosse suficientemente inusitado, ontem tivemos a cena improvável de Trump e Lula acenando para uma aproximação política.

Algo que ninguém ousaria colocar em uma planilha de cenários, mas que bastou para fazer a Bolsa disparar e o dólar derreter. Foi inesperado, quase esdrúxulo, beirando o cômico. E, justamente por isso, pedagógico: o mercado não segue roteiro.

E é nesse palco que a ironia se apresenta. Quando a Bolsa sobe, a maioria está de fora. Quando cai, muitos entram em pânico. Hoje, olhando para o conjunto dos clientes da iHUB, apenas 12% estão alocados em ações — e ainda assim esse número já é maior que a média nacional. Em 2020, já vimos esse percentual bater quase 50%. Para colocar em perspectiva: só 3% dos brasileiros investem na Bolsa, enquanto 13,4% arriscam no tigrinho e 16% têm bitcoin. A irracionalidade não está nos números, mas no comportamento. O investidor médio carrega um viés previsível: acredita que o presente se eternizará. Se está ruim, continuará ruim. Se os juros estão altos, é ali que se deve ficar para sempre. Mas o mercado, como uma comédia de gosto duvidoso, costuma virar o enredo justamente quando o público já tinha desistido da peça.

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O paradoxo é que “proteger-se” demais pode ser, ironicamente, a aposta mais arriscada. Os juros que hoje parecem um porto seguro não durarão para sempre. E mesmo quando persistem, a inflação corrói silenciosamente o ganho real — um inimigo menos barulhento, porém mais cruel. Quem acredita estar salvo na renda fixa descobre, tarde demais, que estava exposto ao risco mais traiçoeiro: o de perder poder de compra sem perceber.

Por isso, a recomendação mais antiga e, para muitos, a mais incômoda, continua sendo a mais sensata: diversificação. Não se trata de adivinhar o ativo da vez, mas de aceitar nossa ignorância em relação ao futuro. Ter Bolsa, dólar e renda fixa, em proporções adequadas ao perfil e aos objetivos, pode parecer entediante perto da emoção de apostar tudo em um único cavalo. Mas é justamente essa disciplina que impede o investidor de ser vítima da própria teimosia.

No fim, investir não é sobre vencer a discussão de bar sobre qual ativo vai “bombar” no mês seguinte. É sobre ter uma estratégia que sobreviva ao inesperado: seja um choque inflacionário, uma queda abrupta nos juros ou, quem diria, uma improvável parceria diplomática entre Trump e Lula. O que parece impossível hoje pode ser justamente o gatilho da virada amanhã. E pouquíssimos têm estômago para isso.

A reflexão que fica é simples, mas incômoda e o Investidor Consciente deve ter sempre em mente:  será que o verdadeiro risco é a Bolsa cair… ou nós mesmos desistirmos dela quando mais deveríamos aproveitá-la?

Nos vemos na próxima edição.

— Paulo Cunha