Por Paulo Cunha 03 de setembro 2025
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Edição #002

Se a política é barulho constante, será que não é o investidor (e não o mercado) quem mais precisa aprender a filtrar o ruído?

O julgamento com a maior audiência do país começou esta semana. A expectativa por sua conclusão é, para muitos, um jogo com resultado já anunciado. Não é a sentença em si que chama atenção — mas sim o que vem depois. Quais serão as reações no dia 7 de Setembro? Trump, como já sinalizou, retaliará com palavras ou com ações? Empresas brasileiras com participação estatal ou influência política sofrerão alguma sanção? A condenação marca o fim da força política da direita no país ou será, paradoxalmente, o gatilho de sua reorganização?

Essas perguntas pairam no ar. São legítimas. Mas o investidor maduro deve fazer uma outra pergunta — mais incômoda, mais importante: isso tudo realmente importa para a minha estratégia de investimentos?

É natural buscarmos narrativas. Somos, por essência, criaturas que constroem sentido por meio de histórias. Filmes, novelas, campanhas publicitárias, tudo nos captura por enredos que conectam emoções, conflitos e resoluções. No mundo dos investimentos, não é diferente. Queremos acreditar que há um fio condutor que explica os altos e baixos da bolsa, os movimentos do dólar ou as quedas em ações específicas. Mas o mercado, diferentemente das novelas, não tem obrigação nenhuma de oferecer coerência emocional.

Nos últimos meses, o cenário político brasileiro voltou a ocupar o centro das atenções. Desde a retórica do governo com relação a soberania e proteção das empresas estatais até falas de Donald Trump questionando a legitimidade das instituições brasileiras, o pano de fundo tem sido de desconfiança, ruído e polarização.  Como esperado, os reflexos começaram a aparecer. As ações do Banco do Brasil, por exemplo, sofreram forte desvalorização em agosto, impactadas diretamente pela percepção de risco institucional — uma lembrança clara de que o investidor local, mesmo que técnico, está exposto a forças que muitas vezes escapam da lógica econômica.

Mas há algo ainda mais importante do que os movimentos do mercado: o comportamento do investidor diante da percepção se risco. Porque o que destrói uma estratégia no longo prazo não é apenas a crise em si — é a forma como se reage a ela. O ruído constante, quando não filtrado, contamina a disciplina da estratégia estabelecida inicialmente. É nessa contaminação que decisões ruins nascem.

A boa notícia é que o investidor brasileiro de hoje tem opções que não tinha no passado. O que mudou não foi a instabilidade do país — essa continua presente. O que mudou foi a capacidade técnica de quem investe de se proteger dela. Com uma estrutura simples, legal e acessível, é possível abrir conta em instituições como a XP Internacional, Nomad ou Avenue e acessar mercados globais com diversificação cambial, geográfica e institucional. E mais do que isso: os ativos não ficam sob custódia no Brasil, mas sim em instituições americanas como a Apex Clearing, uma das maiores do mundo, regulada por órgãos como a SEC e a FINRA. Isso oferece ao investidor uma camada de proteção jurídica e de governança que vai muito além do discurso.

Fora isso, as taxas oferecidas na Renda Fixa brasileira hoje estão extremamente atrativas e apesar da alta recente que tivemos na Bolsa, o ETF EWZ (Ibovespa em dólares) ainda vale menos da metade do seu pico histórico em 2008, ou seja, temos muito espaço para recuperação e isso sugere uma tremenda oportunidade.

Mesmo assim, o que paralisa muitos investidores não é a ausência de opções. Vivemos numa era em que a informação viaja em alta velocidade. As Plataformas priorizam o engajamento, o que favorece o conteúdo que assusta, exagera ou distorce. Influenciadores que pouco entendem de política ou finanças surfam na ansiedade coletiva e publicam, com tons apocalípticos, análises rasas sobre o “fim do Brasil”, “o colapso do sistema” ou “a fuga do capital”. Sabem que o medo vende mais que a razão.

Esse ambiente afeta a tomada de decisão mesmo de quem se considera racional. Porque por trás de cada movimento precipitado, muitas vezes, está o medo de perder, de errar, de não agir a tempo. A psicologia comportamental já provou: damos mais valor à dor de uma perda do que ao prazer de um ganho. E, nesse processo, muitos acabam sabotando suas próprias estratégias, confundindo volatilidade com tendência, e ruído de notícias com ameaça real.

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O verdadeiro investidor consciente é aquele que não fecha os olhos para o que está acontecendo — mas que também não reage a tudo que acontece. Ele sabe que há riscos políticos, sabe que há volatilidade, mas também sabe que há formas de se proteger e aproveitar as oportunidades, sem renunciar à racionalidade. A diversificação não é uma fuga, é uma resposta técnica a um ambiente estruturalmente instável. Não se trata de estar pessimista com o país, mas de reconhecer que o mundo está disponível — e que limitar-se ao Brasil, por patriotismo ou inércia, pode ser uma decisão custosa.

No fim, o que está em jogo não é apenas a condenação de um político, ou a baixa moralidade do STF em poder julgar sem ser questionado por boa parte da população, mas a sua capacidade de não condenar a própria estratégia por impulso emocional. A crise existe. O barulho é alto. Mas a estratégia ainda deve prevalecer. A pergunta não é se o julgamento de Bolsonaro vai impactar os mercados.


A pergunta é: sua carteira está preparada para qualquer cenário — e sua mente está preparada para lidar com o medo?

Nos vemos na próxima edição.

— Paulo Cunha